Acerca dos edifícios históricos da Cidade de Silves

(...) O monumento histórico mantém uma relação diferente com a memória viva e a duração. Ou é simplesmente constituído em objecto de saber e integrado numa concepção linear do tempo e, nesse caso, o seu valor cognitivo relega-o, sem apelo, nem agravo para o passado, melhor dizendo, para a história em geral, ou para a história de arte em particular; (...)
Françoise Choay


Como já anteriormente tinha dedicado um artigo a um edifício histórico da Cidade de Silves (Edifício do Tic-Tac), desta vez volto a tocar no assunto devido a factos recentes e já bastante falados nas últimas semanas.
Vêem-se edifícios históricos, às vezes não tanto por questões técnicas ou arquitectónicas, mas sim pela sua presença na história local, a serem demolidos de um momento para o outro sem uma explicação plausível. O último destes casos, já muito divulgado, foi o do edifício da antiga Escola Industrial, construção já de certa imponência, com história e certamente enraízado na memória da população. Apesar de necessitar de uma intervenção, mas nunca da demolição, o prédio da antiga escola industrial poderia servir para tantos usos, desde fins culturais, serviços ou até comércio de qualidade. Como este estão muitos outros ameaçados e que poderiam albergar entidades que garantissem ou promovessem a dinâmica cultural que a cidade tanto precisa. Enquanto monumento histórico estes edifícios devem permanecer na cultura da cidade, optimizando-os para um uso compatível com as necessidades da população. Ver desaparecer espaços que fazem parte de uma identidade e que contêm "várias linhas" da história recente da cidade é quase o mesmo que assistir à queima de livros que podem ajudar a compreender o ser humano e a sua evolução enquanto sociedade.

Comentários

Anónimo disse…
porque é que não destroem prédios horrorosos que andam por aí a construir, esqueletos que vão ficando e denegrindo as paisagens urbanas? Por exemplo? Porquê gastar dinheiro a construir de novo, quando há inúmenros edifícios, deixados ao abandono, que podem ser, perfeitamente, reutilizados, seja para que fim for...
Há coisas que n compreendo...
Vem a casa Garrett pela qual passei e que vai ser transformada num pátio ou num jardinzeco...muito melhor teria sido manter a machada e fazer então o patiozeco ou o jardinzinho do outro lado da parede...não?
Continuamos a bater na cabeça do ceguinho e este é um ceguinho mt grande, cabeçudo mesmo, com uma cabeça do tamanho da país ;)
E com esta me calo.
Anónimo disse…
Onde se lê "machada" deve ler-se "fachada".
Para além disto! se alguém tiver o meu livro da Françoise, o fabuloso "Alegoria do Património", é favor de mo devolver!
Atentamente
Anónimo disse…
Escola Industrial? Em Silves? Ai que estou em estado de choque! Tens de me contar esta história que estou mesmo a leste... e sem palavras!
Anónimo disse…
As pessoas e a sociedade só veêm aquilo que querem ver e aquilo que lhes mostram, ou melhor são ensinadas a ver. Este blog é um bom contributo para a divulgação e salvaguarda do Património Cultural Silvense. É um bom exemplo do que podemos fazer a partir de nossas casas, assim se vai ensinando mais um pouco da memória da sociedade, ensinando-a também a descobrir e salvar a sua própria memória.

Quanto ao assunto que expões no último artigo é um mal que, infelizmente, não acontece só em Silves mas um pouco por todo o lado, em Alcoutim sucedensse os ataques ao património. O último é a construção de um prédio de apartamentos mesmo nas traseiras da Igreja Matriz (obra do Séc. XVI, atribuída a André Pilarte, e sobre parte da antiga muralha que se encontrava sob duas casas tradicionais que ali existiram até á bem pouco tempo. E assim se vai evoluindo, sobre betão e mais betão, é o progresso. As leis que temos parecem ser para inglês ver, pois o IPPAR nada faz e ainda dá pareceres favoráveis.

Eu não sou contra às inovações, nem às novas arquitecturas, acho é que devemos respeitar a herança cultural e as novas marcas serem inscritas no seu espaço adequado.

Parabéns pelo blog e continua!

Fernando Dias
Martinlongo - Alcoutim
Anónimo disse…
Recomendo o livro (recente): Françoise Choay, "Património e Mundialização", Casa Do Sul Editora.

http://www.livrosdeportugal.com.pt

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