Novamente a cor.



Quando parece ainda continuar na ordem do dia a discussão sobre a escolha cromática que recaiu sobre os azulejos da intervenção no edifício do futuro museu em S.B. Messines, a escassas centenas de metros existe um caso de adulteração do cromatismo original/tradicional num edifício conhecido por todos e, que no entanto , não foi contestado a nível público.
Refiro-me, deste modo, ao edifício do Mercado Municipal de São Bartolomeu de Messines, também conhecido como a “praça”.
Este edifício como muitos outros mercados municipais existentes por Portugal foi erigido como forma de suprir a carência de infraestruturas encontrando-se sob um programa arquitectónico definido pelo poder central.
Actualmente pintado de rosa, cor nada habitual neste tipo de edifícios públicos, ainda para mais no período do Estado Novo, sendo o cromatismo preferencialmente usado o branco. Além de se encontrar desajustado com o cromatismo habitual praticado já desde épocas distantes e que passa pelo branco, o ocre, azul no soco e neste contexto geográfico ainda podemos assistir ao vermelho da grés.
Para além de obedecer a uma certa “normalização” arquitectónica, esta tipologia de edifícios estava geralmente sujeita também a um certo controlo da cor, onde a “alvura” do branco era para ser respeitada no programa arquitectónico, sendo este de uma forma geral de cunho mais tradicional que moderno.
Ora ao se executar uma intervenção deste tipo está-se a praticar a adulteração de um projecto arquitectónico que possui determinadas características porque está inserido num contexto muito específico, e só fará sentido se continuar a respeitar determinados requisitos sendo um deles o cromatismo original.
Não deixa de ser estranho como as reacções são apenas verificadas em certas intervenções enquanto que noutras estas são perfeitamente ignoradas ou passam despercebidas, incorrendo à descaracterização , que apesar de ainda ser reversível, não deixa de ser grave pelo facto de abrir precedentes.

Comentários

Anónimo disse…
Parabéns Marco! Não diria melhor! É indiscutível que a sua cor original deveria ter sido mantida. Mas, quando há cortes orçamentais dá nisto... Não terá a tinta sobrado de alguma outra obra? Talvez valha a pena pensar nisto... Pelo menos é algo com remédio!
Anónimo disse…
Já agora Marco...que tal um trabalho sobre o cine-teatro de S. B. de Messines para um próximo post? Se não estou enganado, e ao contrário do que aconteceu com a nossa sala de Silves, essa ainda tem a dignidade de ir abrindo as suas portas, nao?
Obrigado pelos comentários André. Estou a ficar desconfiado que de facto a tinta foi passando de obra em obra, pois poucos dias depois reparei que tanto o edifício da Junta de freguesia como a extensão do centro de saúde são da mesma cor ou algo muito parecido. Quanto ao cinema de Messines, esse ainda abre as portas e a seu tempo espero dedicar-lhe algum estudo e palavras.+
Anónimo disse…
o melhor que podiam fazer a esse mercado era deita-lo abaixo, assim desaparecia um bocadinho de um periodo negro da arquitectura Portuguesa!
Eu não devia ter publicado este comentário do nosso amigo anónimo, mas publico só para afirmar que sendo de um período negro ou não (se é que esses períodos existem), este edifício e outros devem ser preservados, neste caso, como um exemplar de arquitectura pública da 1ª metade do século XX. Não é eliminando o passado que se avança. Além de que as mais variadas nuances de tal arquitectura de "programa" são de uma riqueza maior do que se julga.

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