O edifício do antigo posto de turismo em Silves, uma abordagem.


Anónimo para a população e reconhecido como original no contexto silvense nas obras relativas à arquitectura no Algarve, é nesta dualidade que vive o edifício que até há bem pouco tempo albergou o posto de turismo da RTA em Silves, e que agora destituído das suas funções, espero que seja reaproveitado em breve para alguma actividade, seja ela de serviços ou comercial.
-Porquê a abordagem ao edifício do antigo posto de turismo?
-Não vejo nada nele… não tem nada de especial!
Quando disse a algumas pessoas que iria escrever sobre ele foi o que ouvi delas.
Em primeira instância e como já disse anteriormente é a meu ver necessário arranjar, e brevemente, resposta para colmatar a mudança do serviço que este prestou durante vários anos para um edifício mais apropriado e melhor localizado. Mas temos que ter em conta que um imóvel que se vê privado de funções está mais rapidamente sujeito a degradação ou mesmo acidentes provocados por falta de manutenção das instalações eléctricas ou canalizações, na sua maioria já antigas.
O mais curioso é o anonimato, já referido, deste edifício no contexto do casco urbano silvense, talvez seja incompreensão que venha da época da sua construção, nas primeiras décadas do século XX, pois nesta cidade manteve-se até muito tarde um grande conservadorismo no que toca à construção e raros são os edifícios que se demarcam dos demais com soluções modernizantes, que acompanhem, nem que seja a título decorativo, as tendências arquitectónicas importadas do exterior ou mesmo das grandes cidades portuguesas onde era mais fácil (ainda que de modo limitado) chegar as ideias de vanguarda.
O edifício do turismo, possivelmente construído nos anos 30 do século passado, é um destes casos, quanto mais não seja nas soluções decorativas e de demarcação de pisos, que adopta uma estética evocativa do estilo Art Déco, tal é patente na decoração entre o piso térreo e o primeiro andar com o jogo de triângulos, as barras que percorrem todo o imóvel, em especial a que se encontra sobre a janela do primeiro piso, com “caneluras”. De notar também a chaminé, que joga com motivos geométricos e “caneluras” e o trabalho de massa acima da porta da habitação na Rua Bernardo Marques.
Comparando com os edifícios anexos denota-se uma postura mais cosmopolita e menos “tradicional”, tanto a nível decorativo como a nível de aproveitamento do pequeno espaço que o imóvel ocupa, jogando desta forma com o aproveitamento na vertical, reforçado visualmente pela sua pouca largura.
Em suma, uma peça arquitectónica que apesar de recente necessita de ser valorizada e porque não integrada em estudos de arquitectura, à semelhança do já efectuado por José Manuel Fernandes e Ana Janeiro, A Arquitectura no Algarve: Dos primórdios à actualidade, uma leitura de síntese, onde o imóvel em questão é referido, ou em obras dedicadas à Art Déco no Algarve, ou ainda quem sabe, um estudo monográfico dedicado ao edifício do turismo.
Os testemunhos arquitectónicos do século XX necessitam de tanta atenção quanto os mais antigos, felizmente esse sentimento tem crescido nos últimos anos, mas o levantamento e a inventariação ou mesmo a classificação são fundamentais e devem ser utilizados como ferramentas para a sua salvaguarda e memória futura.


Artigo originalmente publicado no jornal Terra Ruiva nº 96 de Dezembro de 2008.

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