Mercado Municipal de Silves- Intervenção Futura, um apelo à salvaguarda das caracterísiticas arquitectónicas do edifício.




O Mercado Municipal de Silves é, ainda que abafado entre toldos, grelhadores e uma obra por concluir com uma cota bastante superior, um dos edifícios mais carismáticos da pequena cidade. Recentemente li a notícia de que vai sofrer obras de beneficiação, que de facto são necessárias a bem dos comerciantes e consumidores. No entanto espero que as suas características arquitectónicas sejam mantidas e, quem sabe, até um pouco devolvidas à sua aparência original de modo a que população e visitantes usufruam um pouco mais da vista do imóvel.

O actual edifício é um exemplar arquitectónico de gosto “mais ou menos oficial” do sistema político vigente à época (anos 40/50 do séc. XX), digo “mais ou menos oficial” porque esta questão não pode ser tão facilmente padronizada, mas que circulou especialmente em edifícios públicos um gosto ou repertório comum com a utilização de determinadas soluções arquitectónicas é um facto.

Esta arquitectura conhecida como “do Estado Novo” ou “Português Suave” é muitas vezes desvalorizada, não só pela sua relativamente recente execução e aplicação, mas também pela sua conotação com o regime ditatorial que vigorou no país, mas no entanto não é desprovida de interesse ou uma “memória a apagar” como infelizmente já li escrito por alguém certamente ignorante.

Um dos aspectos mais fortes do imóvel, nas palavras de José Manuel Fernandes, são o seu coruchéu telhado e esfera armilar junto com o brasão de armas da cidade, a evocar as torres municipais de tradição medievalista, ou a assumir-se como tal. No caso de Silves, logo à entrada da cidade, pode-se tirar, ainda que com reservas, a segunda conclusão.

Há que fazer um esforço por manter estes exemplares de arquitectura que são uma memória histórica e símbolo identitário da população, sem as desfigurar ou descaracterizar demasiadamente .

O melhoramento e modernização da estrutura tendo respeito pelas pré-existências é um sinal de conhecimento e apreço pelo passado que para o bem ou para o mal fez parte da nossa formação e identidade enquanto população. Estas medidas são muito importantes no caso da história recente, que geralmente é a que maiores atentados sofre por se julgar “de ontem” e ainda estar muito presente na memória colectiva, mas não o será, de forma tão clara, daqui a décadas ou séculos se não forem devidamente preservados testemunhos e registos. A intervenção sim, é necessária e bem vista, a descaracterização do edifício é que terá que ser tomada como um risco neste capítulo e é esse o meu apelo para que a emblemática “praça” mantenha as suas características e continue como marca identitária da cidade.


Leituras efectuadas:


Fernandes, José Manuel. Janeiro, Ana. Arquitectura no Algarve - Dos Primórdios à Actualidade, Uma Leitura de Síntese. Edição da CCDRAlg (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve) e Edições Afrontamento, 2005.


FERNANDES, José Manuel – Português Suave – Arquitectura do Estado Novo, IPPAR, 2003


Fonte da imagem:
Fernandes, José Manuel. Janeiro, Ana. Arquitectura no Algarve - Dos Primórdios à Actualidade, Uma Leitura de Síntese. Edição da CCDRAlg (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve) e Edições Afrontamento, 2005, pág. 93


Comentários

João Gregório disse…
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