No Rain in Portugal But Tourists Pour In - Breve interpretação de um cartaz turístico do Secretariado Nacional de Informação .


O turismo em meados do século XX foi um assunto já aqui abordado à laia de intróito nos artigos respeitantes ao antigo casino de Armação de Pêra e ao Hotel Garbe localizado na mesma vila. Desta vez será feita uma abordagem, ainda que não directamente ligada ao concelho, à forma como os potenciais turistas eram assediados a passar férias no nosso país nas décadas de 40/50 e 60 do século XX através do meio oficial do estado, ou seja o Secretariado Nacional de Informação, Turismo e Cultura Popular (adiante apenas S.N.I.). Tomo como base para este artigo uma composição da autoria do artista gráfico Nuno Costa presente na revista Panorama Nº 13, III Série de Março de 1959 cujo slogan deu o título a este artigo, No Rain in Portugal But Tourists Pour In. O cartaz criado por Nuno Costa é de facto um interessante exemplo da imagem que o S.N.I. queria divulgar do país para os mercados exteriores, frisando o que torna o país tão aprazível, o período alongado de horas solares existentes por ano, e claro está os períodos geralmente curtos de pluviosidade, que na época estival tendem a não ser intensos e na maior parte das vezes inexistentes. Qualidades que ainda hoje nos valem milhares de turistas, tornando Portugal uma opção muito válida, mas que requer, como já antes foi afirmado, o acompanhamento de conteúdos de interesse como a preservação do Património Cultural e oferta de qualidade nesse campo.

Não menos interessante é a segunda parte do slogan, But Tourists Pour In, que indica ou tenta fazer passar a ideia que a procura à época já era bastante, e a julgar pelas figuras do cartaz variadas, logo de várias nacionalidades, sendo possível identificar entre outros, ainda que as figuras estejam bastante estilizadas, um escocês, um alemão, um indiano e um elemento vestido com um traje africano reconhecíveis com o recurso a elementos da identidade nacional dos países/ continentes em questão.

Como elemento central e em grande destaque, temos um sol, vestido de campino, como que a marcar a identidade portuguesa, que de gesto simpático vai recebendo os elementos vindos do exterior, aqui como já pudemos verificar, sabiamente identificáveis pelo traje “tradicional” dos seus países. É de notar também para reforçar a ideia que se quer passar, a preferência dada às cores quentes, que acrescentam um ar ainda mais estival à imagem propagandística.

Esta composição mostra como o S.N.I. tinha uma máquina de propaganda inteligente e cuidada que tentava seduzir o turista através da conjugação dos factores já vistos aqui e que tornavam o Portugal de meados do século XX um destino exótico e de certa forma “preservado” com as suas tradições, que como sabemos em muito moldadas por este organismo desde a sua fundação, ainda como Secretariado da Propaganda Nacional, e com as enormes campanhas da DGEMN no património construído do país. A ideia de que já vão choviscando/chovendo turistas, tentava indiciar o aumento da procura pelo país, e fazer passar uma grande abertura à multiculturalidade, facto que na realidade não se verificava. Basta olharmos para a situação africana, onde os movimentos de libertação nunca foram bem aceites, tendo como se sabe desembocado na longa Guerra Colonial, contenda que demonstra a falta de consideração pela cultura de povos que tantos séculos tiveram que estar sob o controle de outro país . Outro exemplo evidente foi o proteccionismo comercial e cultural que se fez sentir que acabava por vedar o acesso de certos bens exógenos, tanto materiais como culturais, ao grosso da população.

O cartaz turístico assumiu uma das formas mais interessantes das artes gráficas do nosso país nos meados do século passado, tendo mesmo sido instituído um concurso a ele dedicado, organizado pelo S.N.I. em 1945. A propaganda turística emitida pelo Secretariado era uma forma de “aliviar” a imagem do país para o exterior, que se encontrava desgastada pela situação política e pelo facto de as relações externas serem muito fechadas, era dado ênfase ao folclorismo e tradição e aos óptimos recursos naturais que ainda hoje dispomos para a prática do turismo e da helioterapia, em voga na época, dando a ideia de um local com muitos pontos ainda intocados, exótico face a um mundo cada vez mais miscigenado por via da internacionalização, pois o conceito globalização ainda não estava tão instituído. Para os menos preocupados ou sensíveis às questões políticas e culturais esta imagem que em nada exteriorizava o real estado do país, os cartazes do S.N.I. cumpriam muito bem a sua função apresentando um país aprazível e amistoso para todos, um local aberto ao mundo.



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