Soluções e Técnicas Tradicionais- O Adobe
A transformação da terra
em material de construção é já milenar e as técnicas foram-se
gradualmente expandindo pelos mais variados pontos do globo, segundo
a maior parte dos estudos, a partir da zona a que hoje denominamos
Médio Oriente. Uma das mais básicas e antigas formas de
processamento da terra para a edificação é a manufactura de
tijolos de adobe. Contrariamente ao chamado tijolo burro e aos
tijolos cerâmicos de concepção industrial, o tijolo de adobe é
seco naturalmente dispensando o uso de fornos. Os materiais
necessários à sua produção geralmente estão ao alcance de
qualquer um, sendo normalmente extraídos no local de construção,
terra/argila, areia. água e palha, surge também referida a
utilização de esterco de vaca, cavalo ou burro. Após a obtenção
da mistura ideal (cerca de 60/70 % de areia e 30/40% de argila) à
qual é acrescentada água para formar o barro que irá secar, é
também adicionada a palha que melhorará a resistência à tracção.
Algumas fontes indicam que
o barro mais indicado para esta utilização deve ser obtido a cerca
de 40/50 cm de profundidade, por à partida estar mais limpo de
detritos que as primeiras camadas. Estes elementos são batidos até
estarem bem misturados e depois enformados nas adobeiras, formas
rectangulares, na sua maioria de madeira onde o tijolo vai ganhar a
sua forma até secar. A secagem ao sol dura cerca de oito dias, tendo
que ser voltados dois dias depois de enformados. As dimensões médias
encontradas no nosso território para os tijolos de adobe são cerca
de 40 cm de comprimento por 20 cm de altura e igual largura. Para
além das formas simples, o rudimentar rectângulo de madeira, ainda
existiam algumas que permitiam a execução de múltiplos tijolos
simultaneamente, assim como moldes específicos ou de meio-tijolo. A
aplicação desta solução na nossa arquitectura popular, ainda que
reduzida, é mais verificada no sul do país, com maior expressão
nos distritos de Setúbal e Faro.
Dadas as características
do material a sua utilização predominante é na edificação de
paredes interiores, onde está mais resguardado dos agentes erosivos.
É também aconselhável que a construção de adobe assente sobre
alvenaria de pedra com cerca de 60 cm de altura para evitar as
humidades ascendentes do solo.
Há algumas décadas
existiam ainda pessoas dedicadas ao ofício que se instalavam no
local da obra e efectuavam os tijolos onde viriam a ser aplicados. A
selecção da matéria-prima depende da disponibilidade do local, mas
testemunhos afirmam que os barros brancos permitem a execução de
tijolos mais robustos e que ligam melhor, ao passo que os barros mais
avermelhados têm tendência, depois da secagem, para ser mais
friáveis. A ligação entre tijolos de adobe era muitas vezes
garantida por argamassa de barro, que além de garantir um trabalho
superior ao cimento ou mesmo argamassa de cal, neste caso, evitava
situações de indisponibilidade de material. Pois há várias
décadas o cimento ainda não se tinha difundido e nas zonas serranas
mais isoladas a cal também não assumiu a importância para a
construção que se verificou em grande parte da região sul do país.
Esta solução além de
económica face a outras, pois aproveita os materiais disponíveis na
área da construção tem também um menor impacte ambiental, por não
exigir a queima de materiais combustíveis que os outros tijolos
necessitam, não libertando desta forma gases para a atmosfera,
reduzindo também o recurso a determinados meios de transporte e
máquinas geralmente de consumo elevado e emissoras de grandes
quantidades de co2. A construção em terra do ponto de vista térmico
é também bastante eficaz filtrando melhor que as alvenarias de
betão e tijolo as condições adversas do exterior.
A
sobrevivência desta técnica na arquitectura popular até ao século
XX é indicador da sua validade enquanto solução construtiva
motivada por vezes pela dificuldade de obtenção ou custo de outros
materiais de construção ou por razões de economia. A inovação
técnica e tecnológica ditou o quase abandono da utilização do
adobe, pois os materiais de produção industrial rapidamente se
difundiram, ajudados por preços competitivos, rapidez na construção
e pelas constantes melhorias das vias de comunicação que garantiram
transportes mais regulares e baratos. O entusiasmo pela inovação
transformou os hábitos construtivos e nem sempre trouxe melhorias
face aos métodos empregues durante séculos.
Actualmente há um
renovado interesse por parte de arquitectos e investigadores. A busca
de casas que sejam mais sustentáveis do ponto de vista ecológico
encontrou também um determinado tipo de cliente, havendo quem
procure casa nova onde sejam empregues este tipo de soluções, por
estar comprovada a eficiência térmica e energética. A pegada
ecológica é supostamente menor, pois os materiais são na sua
maioria locais e deste modo é reduzida a queima de combustíveis
fósseis tanto para o fabrico como para o transporte.
Nos
últimos anos têm surgido mais publicações e investigação no
âmbito da arquitectura popular, o que permite o registo de
testemunhos ou mesmo dos processos segundo os métodos tradicionais,
despertando assim a curiosidade a um maior número de pessoas, o que
certamente ajudará na salvaguarda de alguns exemplares existentes já
com uma longa vida de utilização e que por ignorância poderiam
estar condenados à demolição num processo de reabilitação do
edifício.
Leitura
recomendada:
Costa, Alexandre Miguel (2008),
“Adobes,
tijolos e tabiques” in Materiais, sistemas e técnicas de
construção tradicional: Contributo para o estudo da arquitectura
vernácula da região oriental da Serra do Caldeirão,
CCDRAlg/ Edições Afrontamento, s.l., pp. 74-77
Sítios
web consultados:
Fonte
da imagem:
Comentários
Vejam em:
A Terceira Dimensão - Fotografia Aérea de Portugal - Silves
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