Até os antigos sinais de trânsito são património cultural!


sinal.jpg Posted by Hello

A noção actual de património cultural, pelo menos no nosso país, está muito associada a dois tipos, o edificado (dos castelos, fortalezas, igrejas e conventos) e o arqueológico na sua multiplicidade de formas e tipologias. De vez em quando abordam-se outros temas dentro do património cultural, como por exemplo a gastronomia ou os cantares populares. Com o crescente fascínio sobre o mundo medieval e consequentemente do seu património edificado e arqueológico sobrevivente, e também com os proveitos económicos que as autarquias retiram deste fascínio passaram a proliferar inúmeras recreações da época medieval no formato de feiras ou mercados realizados em pleno centro histórico ou no interior dos monumentos. Não me oponho de todo a este tipo de realização cultural, quando feitos com qualidade e, perdoem – me os leitores a expressão, com o menor número de “macacadas” possível. Mas o assunto que me leva a redigir este artigo prende – se com o menosprezo que muitas manifestações culturais e marcas do passado têm sofrido. Numa noção alargada de património cultural até um antigo sinal de trânsito pode ser considerado património. Como defensor dessa posição entristeço-me ao ver esses sinais de trânsito feitos em cimento ao abandono em detrimento dos seus congéneres actuais de alumínio que em princípio não necessitam de manutenção. É claro que não pretendo que se volte ao passado e só se utilize a sinalética de tipo antigo, mas sim preservar a ainda existente e devolver-lhe a dignidade que possuíam quando foram colocados no sítio e onde actualmente se encontram em processo de degradação ou a servir de suporte para qualquer grafitti. É compreensível a substituição dos antigos sinais pelos actuais de alumínio que necessitam (ou deveriam necessitar!) de menos manutenção e também devido à camada reflectora que melhora a visibilidade e leitura nocturna, mas imagine-se como ficaria pitoresca uma estrada com a ainda existente sinalética antiga reparada e pintada tal como era há algumas décadas atrás. Existem certamente, noutros países, ou até noutros pontos do país, quem sabe não muito longe de nós, troços de estrada com este tipo de sinais e barreiras de protecção devidamente mantidos que dão aquela sensação de estarmos a percorrer um caminho histórico e que fica sempre bem na foto turística e para a promoção de uma imagem de preocupação com o património, servindo ao mesmo tempo como indicadores de um caminho pioneiro no nosso automobilismo ou rota histórica. Ainda há pouco tempo avistei quando ia a passar de carro no sítio da Portela de Messines um antigo marco indicador de distância, também feito de pedra e cimento, tombado e votado ao abandono. Vamos assim assistindo ao desaparecimento de marcas do passado que com simples arranjos e uma pintura periodicamente seriam um elemento de identidade cultural e de afirmação de uma preocupação com uma forma de património até hoje praticamente esquecida, mas que por mim e acredito que por mais alguns tem tanto valor como outros tipos de património existentes. Estes sinais de trânsito têm de ser inventariados e tratados antes que desapareçam os poucos exemplares ainda existentes aos olhos do público em geral e dos turistas que decerto apreciariam passear nestes sítios e tirar uma fotografia junto do “histórico” sinal de trânsito.

Comentários

Anónimo disse…
Parabéns Marco! Adorei a tua análise sobre os sinais de trânsito feitos em cimento. Nunca me tinha apercebido da rapidez com que estes simples sinais estão a ser destruidos e substituidos. São um marco até para a própria História da Sinalética em Portugal, se é que ela existe...
Beijinhos e continua atento ao Património :)
Unknown disse…
Eu voltaria ao passado! Podia ser uma imagem de marca do pais. Esses sinais sao magnificos

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